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quarta-feira, abril 28, 2010

Os passos da vídeodança

Cultura - Os passos da vídeodança


O acervo Mariposa conta com
300 títulos.
Muito mais do que o mero registro de coreo­grafias ou espetáculos, a vídeodança, hoje, é uma expressão artística ampla e diversa. Além do viés documental, com caráter de preservação e memória, também é recurso e instrumento de linguagem de coreógrafos sintonizados com a multimídia. Nos últimos tempos, grande número de adeptos usa os recursos da filmagem para associar corpo, movimento e imagem e fazer da vídeodança uma arte autosuficiente, cada vez mais beneficiada pela tecnologia digital.

No Brasil, a vídeodança vem se desenvolvendo nos últimos dez anos, a ponto de já contar com eventos específicos como o Dança em Foco, cujo site inclui boas amostras do que se produz dentro e fora do país, sobre a produção contemporânea e autoral. Essa expansão também tem favorecido a formação de acervos abertos ao público. Embora ainda incipiente, se considerarmos o tamanho e a demanda do território brasileiro, essa tendência tem tudo para crescer. Em São Paulo, o Instituto Itaú Cultural virou referência para pesquisadores, estudantes e artistas. A mídiateca de seu centro de documentação pode ser acessada via web. Por iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, um acervo de vídeodança está sendo organizado na Galeria Olido, onde funciona a Sala de Pesquisa e Acervo do Centro de Dança Umberto da Silva. O forte da coleção, ainda em processo de digitalização para inserir catálogo na internet, é a dança contemporânea paulista. Há registros recentes de aproximadamente 300 espetáculos. As consultas podem ser agendadas pelo telefone (11) 3397-0172. Paralelamente, existem as coleções individuais, restritas a profissionais da área.

Bom exemplo é o Acervo Mariposa, iniciativa da artista e pesquisadora de dança Nirvana Marinho. Graças a um prêmio do projeto Rumos, do Itaú Cultural, Nirvana pode conhecer, em 2001, o acervo fenomenal do Dance Collection, pertencente à Biblioteca Pública de Nova York. “A partir dessa oportunidade, me dei conta da enorme lacuna na área existente no Brasil”, comenta. Disposta a semear alguma mudança no setor, Nirvana valeu-se dos 150 vídeos de dança de sua coleção particular para dar início a um projeto de acesso público, que conquistou patrocínio de R$ 160 mil da Petrobras e já conta com 300 títulos.

Ainda sem sede própria para visitação, o Acervo Mariposa depende da internet para programar consultas. Para obter direitos dos coreógrafos e autores dos vídeos, vale-se do conceito jurídico de compartilhamento, desenvolvido pela organização Creative Commons, que oferece licenças flexíveis para obras intelectuais. A dinamização do acervo, até agora, tem sido feita por meio de eventos, que divulgam o projeto. Segundo Nirvana, a coleção já tem títulos importantes, como as coletâneas que mostram os trabalhos de Lisa Nelson e Steve Paxton. Mestre da técnica de contato — improvisação, Paxton é personalidade histórica, que participou da eclosão da dança pós-moderna nos Estados Unidos. Entre os brasileiros, Nirvana destaca o acervo completo dos trabalhos da coreógrafa paulista Zélia Monteiro, discípula de Klauss Vianna. Representando a dança contemporânea européia, há registros dos coreógrafos Jérome Bel, Xavier Le Roy, La Ribot.

Grande número de adeptos usa os recursos da filmagem para associar corpo, movimento e imagem.

São Paulo ainda é a cidade que concentra os acervos abertos mais estruturados. Mas, iniciativas como o RecorDança, de Recife, arquivo da Associação Reviva que inclui registros em vídeo, mostram que a iniciativa pode se estender por todo o país, desde que haja apoio e condições para a manutenção e o compartilhamento das coleções. Com sede na Fundação Joaquim Nabuco, o RecorDança pode ser acessado na internet. Enquanto as lacunas não são totalmente preenchidas no Brasil, resta aos interessados recorrer às referências mundiais. Ou ainda navegar pela internet em busca das informações disponíveis na rede. Certas produções podem ser obtidas inclusive no YouTube.

Porém, o contato mais aprofundado (e organizado) se dá mesmo nos grandes acervos. Os do Centro Pompidou, em Paris, e o Dance Collection, de Nova York, proporcionam um conhecimento abrangente, pois seus arquivos englobam manifestações de todas as épocas. Por serem depositários da história, são importantes tanto para o público quanto para o vídeoartista. Os sites das duas instituições dão uma idéia da fartura de informações que existe por lá. Situado no Lincoln Center, o Dance Collection hoje faz tributo a um de seus frequentadores, o coreógrafo Jerome Robbins (1918-1998), conhecido popularmente pelo filme e musical West Side Story, no qual também assinou roteiro e direção. Denominada Jerome Robbins Dance Division, a coleção de dança da New York Public Library é considerada a maior do mundo.Dispõe de milhares de títulos, do livro ao audiovisual, além de manuscritos. Entre as preciosidades, coleções sobre gigantes da dança, como Isadora Duncan (1877-1927), Rudolf Nureyev (1938-1993) e Merce Cunningham, revolucionário da dança moderna e um dos precursores da vídeodança (ainda vivo, Cunningham criou um programa de computador para ampliar a pesquisa de suas coreografias). O genial sapateador Gregory Hines, morto em 2003, também tem acervo próprio.

http://www.arede.inf.br/inclusao/edicao-no44-jan-fev2009/1626-cultura-os-passos-da-videodanca

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