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domingo, novembro 22, 2009

Nova geração de velhos conhecidos

Curadora vê, no Brasil, ‘vertente tecnofágica’, que mescla dispositivos de alta tecnologia a objetos cotidianos

domingo, 22 de novembro de 2009 15:25
por
Camila Molina e Marina Vaz

O casamento entre arte e tecnologia não é recente. Nas décadas de 1960 e 1970, o vídeo ganhava espaço nas experimentações artísticas e era considerado uma “nova mídia”. Hoje, com o acelerado avanço tecnológico, parece não existir barreira para os artistas: muitas outras novas mídias surgiram e áreas como a robótica e a engenharia eletrônica foram incorporadas por vários criadores.

Neste ano, o Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo inaugurou seu programa de residência voltado às mídias digitais. No LabMIS, foram desenvolvidos desde janeiro quatro projetos de jovens artistas brasileiros selecionados no primeiro edital da instituição. “A residência é fundamental porque existem pouquíssimos espaços no Brasil para a experimentação”, diz a artista Rejane Cantoni, uma das orientadoras dos projetos do LabMIS. “E o principal da residência não é o resultado final, mas o processo.”

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O MIS é um das poucas instituições que incentivam a produção de arte tecnológica no País, ao lado do Itaú Cultural, com seu programa Rumos Arte e Tecnologia – Arte Cibernética, e do Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia.

“O maior problema dos artistas que trabalham a arte e mídia não é apenas o fomento, mas a falta de mecanismos de circulação de suas produções”, diz Giselle Beiguelman, artista digital, professora da pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP e curadora do Prêmio Sergio Motta. Alguns eventos como o Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (File), realizado em São Paulo e no Rio, e o Festival de Arte Digital (Fad), de Belo Horizonte, também contribuem para movimentar o circuito. Entretanto, para Giselle, há um despreparo das instituições em relação a esse setor. “Novos formatos expositivos, museológicos e mercadológicos devem ser pensados”, afirma.

TECNOFAGIA
A edição deste ano do Prêmio Sergio Motta (leia mais abaixo) constatou que era preciso aumentar a categoria Início de Carreira por conta do aumento do número de inscrições de jovens interessados em criar obras no campo da tecnologia. Pela análise dos portfólios recebidos, Giselle Beiguelman identificou uma atual “vertente tecnofágica” nas obras dos artistas brasileiros. “Há uma estética hoje que mistura dispositivos high e low tech, um hibridismo de tradição e inovação e releituras do cotidiano”, afirmou a curadora na abertura do Fórum Internacional A&T – Perspectivas Críticas, no Centro Brasileiro Britânico, em São Paulo.

A mais recente criação do artista Claudio Bueno (leia mais na pág. L9), Estrelas Cadentes, é um exemplo de “tecnofagia” e de releituras do cotidiano. “Para meu trabalho, eu uso a bateria de um celular, que é um elemento muito pouco notado; nós não percebemos que carregamos energia no bolso”, explica.
Entretanto, o uso da tecnologia por si só não faz de uma criação uma obra de arte. No caso do artista Carlos Fadon Vicente, mestre pela The School of the Art Institute of Chicago, a tecnologia é apenas um dos elementos usados em trabalhos que mesclam fotografia e computação gráfica. “Um dos eixos centrais de minha obra é compor representações feitas a partir do mundo real e do mundo virtual”, diz.

CONHEÇA OS PROJETOS DO LABMIS

Anaisa Franco - Suporte de especialistas é importante para os projetos

Desde seu primeiro projeto, quando estudava Artes Plásticas na Faap, Anaisa Franco mescla os conceitos de animação e escultura. Essa é a base do trabalho que fez durante a residência no LabMIS. Realidade Suspensa é uma escultura virtual formada por um tubo de acrílico transparente (com fumaça dentro), três projetores e um home theater. Para reproduzir três vídeos de forma sincronizada ela usou uma placa TripleHeadToGo. A criação da animação incluiu filmagens aéreas e em estúdio. “O LabMIS tem computadores muitos bons para edição de vídeo e, no estúdio, que é enorme, gravamos sons corporais, como de respiração”, conta. Em seus projetos, ela sempre conta com a colaboração de especialistas, como engenheiros eletrônicos. “Para esse tipo de trabalho são necessários conhecimentos extras”, explica. Apesar do pouco tempo de carreira, Anaisa já participou de exposições em diversos países, como Coreia do Sul, Espanha e Inglaterra. “Lá fora se desenvolvem muito mais projetos por conta própria”, diz. “Acho que a criação do LabMIS é uma forma de fazer que a produção aqui cresça”, avalia. Em dezembro, ela vai para Taiwan e, em 2010, para Barcelona.

Claudio Bueno - Celular faz balão virar estrela cadente

Desde 2005 Claudio Bueno faz pesquisas voltadas a arte e tecnologia. Neste ano, ganhou o prêmio Rumos, do Itaú Cultural, e foi selecionado para o LabMIS. Durante a residência, desenvolveu Estrelas Cadentes, em que o visitante envia um SMS para determinado número e faz com que um balão com pó brilhante estoure. “A tecnologia é simples; pego a energia emitida pela bateria, transfiro para a placa eletrônica e, quando a resistência aquece, o balão estoura”, explica.

Rodrigo Bellotto e Felipe Sztutman - Criação de um espaço para ativar sensações

Alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Rodrigo Bellotto (à frente) e Felipe Sztutman desenvolvem na associação New York, New York obras relacionadas com vídeo. Interessados em trabalhos multidisciplinares, foram selecionados para a residência no MIS pelo projeto Objeto em forma de: Espaço, instalação em labirinto que tem no seu centro fibras óticas e “sistema algoritmico auto-generativo” que desencadeia situações sinestésicas de luzes e odores.

Guilherme Lunhani - Música a partir de um sistema de redes

Guilherme Lunhani, de 24 anos, está se formando em música na Unicamp e na faculdade teve contato com os conceitos de eletroacústica e de tecnomorfismo, ou seja, fazer criações a partir de sistema de redes. Para seu trabalho interativo feito no LabMIS, Objeto – Partículas Sonoras, teve de aprender “em boa parte da residência” a usar o programa Pure-Data SuperCollider (áudio) e Processing (visual) para criar suporte em acrílico sensível ao toque que faz ativar combinações de sons.


http://www.estadao.com.br/tecnologia/link/not_tec3175,0.shtm

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